Alimentação na adolescência
Por Fabiana Salgado, nutricionista da Clínica da Criança e do Adolescente
A adolescência representa a segunda grande janela para a construção de bons hábitos. A primeira é a infância, o início da alimentação, da prática esportiva, da formação dos primeiros traços dos hábitos e costumes. Depois, a adolescência. É nessa fase que tem início o pensamento crítico, o entendimento do contexto e como ele, adolescente, se insere e interfere. Começa o engajamento, a responsabilidade, a noção de causa e efeito das próprias ações. O adolescente começa a vivenciar decisões mais importantes, emoções mais intensas, com hormônios à flor da pele, numa gangorra entre a infância e a vida adulta, progressivamente se responsabilizando por suas ações. E aí mora a oportunidade.
Na adolescência acontecem muitas mudanças no corpo, estirões finais de crescimento e picos hormonais. Há um aumento das necessidades nutricionais e, portanto, do apetite.
Com o apetite aumentado, a atenção ao corpo e a sensibilidade aguçada, devemos nos preocupar mais nessa fase com o possível início de transtornos alimentares como, por exemplo, a anorexia e a bulimia, com o uso de substâncias lícitas e ilícitas para ganho de massa magra e emagrecimento, além de dietas extremas, que podem levar a prejuízos do crescimento. A referência da família é relativizada, os amigos e a mídia ganham peso nas decisões do adolescente. A inserção no contexto social é consumada.
Você pode até pensar nas famosas decisões de qualidade duvidosas dessa fase da vida, mas é também na adolescência que surgem os bons hábitos, forma-se imensa parte dos atletas. É na adolescência que se engaja em causas para toda a vida, que se escolhe a profissão e muito mais. E isso inclui a nutrição.
O contexto adolescente é terreno ideal para a educação nutricional posta de forma clara e honesta, empoderando a ex criança e futuro adulto respeitosamente, falando abertamente sobre corpo e auto aceitação, sobre os fundamentos da saúde, a importância e a complexidade das decisões alimentares. É preciso naturalizar a explosão de sentimentos que interfere diretamente no comer, na saúde intestinal e na auto imagem. Fazer entender os modernos conceitos que dificilmente se escuta em casa de que comer de forma saudável não é encher o prato de salada, não é comer o que não se gosta, não é só sobre o que se come, mas como se come. O adolescente da atualidade não suporta o papo “cringe” de carboidratos e proteínas, os rótulos de “faz bem” e “faz mal”. A abordagem atual da nutrição na adolescência precisa passar pelas questões que permeiam essa fase e se vestir da liberdade que o discurso atual prevê. É preciso valorizar a inteligência do adolescente na certeza de que, dali pra frente, as decisões são dele. Uma interação honesta, de honestas intenções. Ele se envolverá se quiser.
No que diz respeito à auto imagem, acolher a insegurança do adolescente, conversar sobre ela, buscar reconhecer e nomear sentimentos farão muito mais sentido e efeito do que insistir que “você é lindo sim”, “você não está magrela”, “você não é gordo”.
É pelo borbulhar da puberdade e imensa atenção ao corpo que as intervenções nutricionais, principalmente as que dizem respeito à educação nutricional, fazem sentido. A anteninha está voltada para as questões do corpo e aquele aprendizado vai se instalando, abrindo um mundo de oportunidades diferente de antes, pois agora existe uma voz própria mais alta, impossível na infância, quando a dependência era de 100%.
A busca pela orientação especializada moderna, divertida, sensível e humanizada, pode ajudar a abordar o tema do corpo com o adolescente, que representa um tabu em tantas famílias, pode despertar a sua consciência para a responsabilidade pela própria saúde e dar o pontapé inicial para uma mudança que será levada para toda a vida.
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