MEU BEBÊ GOLFA MUITO E TEM MUITA CÓLICA: É APLV, RGE OU INTOLERÂNCIA À LACTOSE?
por Dr. Dorian Domingues
05 de dezembro de 2022
O tema desse texto é bastante complexo, então vamos começar com um tom bem-humorado
Dizem que só as mulheres são capazes de diferenciar coisas aparentemente muito próximas. Como se diz na piada: distinguir as cores creme, nude, areia e bege claro
Pois bem, se há um tema que é bastante confuso em pediatria é a intolerância alimentar, São cinquenta tons de indigestão que dificultam muito o diagnóstico preciso da causa, mas vamos tentar te ajudar.
Primeira regra: o melhor alimento para o bebê é o leite materno, e ponto. Não existe essa de “leite fraco” (embora exista, claro, a produção insuficiente de leite – hipogalactia, que necessita de suplementação). E também é óbvio que excessos alimentares por parte da mãe redundem em disfunções digestivas no bebê, o que também NÃO quer dizer que a mãe tenha que fazer nenhum tipo de dieta severamente restritiva – só manter uma alimentação equilibrada.
Dito isso, vamos tentar separar as três disfunções digestivas mais comuns dos bebês.
1) REFLUXO GASTROESOFÁGICO:
Praticamente regra entre bebês menores que 06 meses e que tem relação com a postura corporal, o tipo de alimento (líquido) e a imaturidade da válvula que regula a junção entre esôfago e estômago; temos um artigo completo sobre esse tema aqui;
2) INTOLERÂNCIA À LACTOSE
Nesse caso o bebê tem uma deficiência na produção da lactase, a enzima que digere a lactose (presente inclusive no leite materno). Pode ser absoluta (= tolerância zero) ou quantitativa (até certo volume de oferta).
Na ausência de lactase esse açúcar não é digerido e sofre fermentação, geralmente resultando em muita flatulência (cólicas, gases, distensão abdominal) e fezes líquidas e “explosivas”.
Nesse caso o bebê pode receber leite materno ou suplementação com fórmulas sem lactose,mas não há restrição à proteína do leite de vaca. As manifestações são exclusivamente digestivas.
3) ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA (APLV)
Aqui já é mais complicado. Mesmo que não haja intolerância à lactose, as fórmulas deslactosadas não servem, pois contém a proteína. São necessárias fórmulas totalmente isentas de leite de vaca (arroz, soja, etc) ou extensamente hidrolisadas (= pré-digeridas a aminoácidos).
Geralmente é a pior forma de intolerância, porque envolve a produção de anticorpos e afeta outros sistemas (respiratório, pele) propiciando episódios de alergias e/ou infecções de repetição.
A solução aqui é a dieta rigorosa e o uso de fórmulas especiais até a dessensibilização, que pode nunca ocorrer. Nesse caso, é dieta ad eternum. Se servir de consolo: no Oriente, que abriga a maior parte da população, não se consome leite. E vida que segue.
4) SINAIS DE ALERTA:
Perda de peso / atraso no crescimento ou episódios sucessivos de quadros respiratórios ou digestivos são sinalizadores de eventuais problemas.
Apesar de serem situações preocupantes, todas essas intolerâncias tendem a desaparecer com o tempo. Mas, se precisar, temos o suporte que você precisa!
Além do nosso alergista (Dr. Renato Camilo Dárcio), nossos gastroenterologistas pediátricos estão à sua disposição para te ajudar nessa travessia nutricional.