Setembro Amarelo e a Prevenção ao Suicídio
por Luane Vieira
Psicóloga da Clínica da Criança e do Adolescente
Chegou setembro e com ele a campanha setembro amarelo que visa a prevenção ao suicídio. Entretanto, para o cuidado mental todo mês é certo, trabalhar a saúde mental de janeiro a janeiro é necessário.
Assim como não podemos reduzir uma questão tão complexa a um mês, não reduzimos os fatores que desencadeiam sofrimentos extremos e que levam a tal vulnerabilidade. Sabemos que saúde não é ausência de doença, logo saúde mental não é ausência de sentimentos, sejam eles qualificados como positivos ou não. Há vários gatilhos, são eles: sociais, econômicos, políticos, físicos e mentais, o ser humano é múltiplo, dessa forma seus sintomas também serão. É inegável o quanto o cuidado mental é importante para a prevenção do suicídio, porém o fortalecimento de políticas públicas, a garantia dos direitos básicos e humanos também são fundamentais para se atuar nesses quadros. Vários sofrimentos psíquicos atuais são sintomas sociais que levam ao mental/físico, ou seja, não se combate o suicídio desconsiderando o contexto, não se trabalha um sujeito sem sua vivência.
Querer morrer é diferente de se matar. Ainda temos muitos estigmas/tabus relacionados a morte em geral, com o suicídio não seria diferente. Tal demanda geralmente aparece como um ciclo, primeiro se apresenta os sentimentos esses diversos/angustiantes que levam aos pensamentos esses são do campo imaginário, o sujeito supõe/planeja como seria, por último se apresenta o ato/comportamento em si, aqui ele executa/tem consciência.
O que seria o suicídio?
É um ato deliberado e executado pelo próprio indivíduo, em que há uma intenção de morte, declarada ou não, mas provocada com uma consciente intencional, ele sabe que tem um desfecho fatal e busca isso. O comportamento suicida está ligado a compreensão da irreversibilidade da morte, em ter a noção que a ação ameaça a vida e por isso faz.
Qual frequência se apresenta na infância?
Os índices na infância ainda são baixos em comparação ao público juvenil. Lembrando, não é que não possa acontecer, mas a criança precisa ter a percepção clara de morte. Geralmente na infância a morte perpassa por algumas etapas, a primeira esta associada ao medo de ficar só, que vai até os 5 anos. Depois dos 5 aos 9 começam a perceber a morte como algo ruim, determinado por algo/alguém, por último dos 10 aos 12 anos já se tem a clareza da morte ligada a inatividade do corpo, algo inevitável/irreversível. Sendo assim, para se enquadrar com ideação, a criança precisa estar nessa última. Quando enfatizamos saúde mental na infância, é para essa e outras questões não se instalarem, ofertar um cuidado mental previamente no intuito de fortalecimento do eu, evita quadros extremos de sofrimento, seja depressão, ansiedade ou ideação suicida. Considerando a adolescência, cada vez mais vemos os índices e tais demandas vulneráveis, do público juvenil que chega ao consultório, metade já pensou em morrer, quis ou até mesmo tentou.
Como prevenir/tratar?
Na infância a via é ofertar inteligência emocional. Já na adolescência, ofertamos um espaço de acolhimento, visamos uma prática voltada ao respeito, apoio acessível, abertura para ouvir e sustentamos o diálogo, acreditamos que diálogo aumenta laços e dá significado ao que sentimos, quando entendemos isso, o desespero se torna tênue e aprendemos a lidar com nossos sentimentos, a nomear/aceitar/ validar/ressignificar.
Novas abordagens são necessárias, em minha especialização, em um módulo/matéria, tive o privilégio de conhecer a abordagem “respondendo a sentimentos suícidas” do Americano Will Hall, estudioso/interventista, ele faz parte dos movimentos internacionais de sobreviventes e recuperação na saúde mental, em meio a sua experiência pessoal, em que desde cedo lutou com emoções extremas, enfatiza a importância de falar sobre tais emoções e experiências. Acredita que se reduz suicídio falando sobre tais sentimentos, não os evitando. Relata que repreender e recalcar só leva a angústia, já falar sem julgamentos leva a libertação.