A santíssima trindade das alergias.
(A rinite é alérgica, a asma é brônquica e dermatite é atópica:
que confusão é essa?)
(por Dr. Dorian Domingues)
A ORIGEM
Tal qual na Bíblia, as alergias também tem a sua Santíssima Trindade. E apesar dos nomes diferentes que damos a esses três entes, trata-se sempre da mesma entidade, só que se manifestando sob variadas formas: a Atopia.
A rinite alérgica, a asma brônquica e a dermatite atópica são as três faces da atopia. E é muito comum que o atópico apresente os sintomas de mais de um desses quadros simultaneamente, juntos & misturados (ou seja: quando um piora, todos pioram, e vice-versa).
A palavra de origem grega é formada pela junção de “a” (prefixo de negação) + “topos” (lugar). Ao pé da letra quer dizer “fora do lugar”. Prefiro traduzir o termo por “inadequado” ou “desregulado”, pois facilita a compreensão.
MUITO BARULHO POR NADA
Como o próprio nome diz, o sistema imunológico do atópico está fora da casinha, e reage descontroladamente a fatores que são até certo ponto bem tolerados pelos não-atópicos (fatores emocionais, inversões climáticas, baixa umidade do ar, infecções virais e bacterianas, mofo, poeira e demais partículas em suspensão no ar, entre outros). Quando se depara com esses estímulos, o atópico libera uma enxurrada de substâncias desencadeadoras do processo alérgico e inflamatório que instaura a crise, seja na pele ou nas vias aéreas, levando às manifestações clínicas. Ou seja: contrariando a crença popular, o atópico não tem um déficit, mas sim um “excesso” do sistema de defesa, um fogo amigo que resulta numa auto-agressão. A famosa tempestade em copo d’água.
A doença é de herança genética (ou seja, o gen está no seu DNA), daí a sua alta frequência na população em geral e o caráter francamente familiar da atopia.
As manifestações normalmente se iniciam na infância (e muitas dessas crianças quando adultos se tornam assintomáticos, mas o gen continua lá, prontinho para ser transmitido para a próxima geração). Por outro lado, quando os sintomas só se iniciam na fase adulta são de mais difícil controle.
Os sintomas podem ser leves ou severos, espaçados ou contínuos, e isso determina a classificação da gravidade da doença para fins de tratamento, e se ele será contínuo ou só durante as crises.
Seja na pele, seja nas vias aéreas, a doença geralmente piora nos meses de baixa umidade (inverno) ou de excesso de partículas em suspensão no ar (primavera). Mas há quem viva em crise o ano todo.
RINITE ALÉRGICA
A rinite é a manifestação mais comum e se caracteriza por sintomas nasais com muita coriza, prurido, obstrução e espirros. É comum que os sintomas também atinjam os olhos.
A complicação mais comum (e muito frequente) é a sinusite, porque o acúmulo de secreções é um fator de risco para infecções. O tratamento é feito com anti-histamínicos por via oral e medicação nasal tópica (sprays).
A ASMA BRÔNQUICA
Das três apresentações da doença é a mais perigosa pois pode levar ao óbito. Aqui a inflamação dos pulmões leva à diminuição da capacidade respiratória, levando à sensação de falta de ar, sibilância (chieira) e à consequente tosse. A doença pode prejudicar muito a qualidade de vida e mesmo ser fatal (leia mais sobre asma aqui https://www.clinicadacrianca.com.br/bronquite-ou-asma/ ).
O tratamento é feito com medicações inalatórias (broncodilatadores, as populares “bombinhas”) e derivados de corticóide por via oral ou inalatória.
A DERMATITE ATÓPICA
Nesse caso a atopia se manifesta na pele, tanto que é chamada (erradamente, claro) de “bronquite de pele”. O resultado disso é a pele seca e áspera e muita, muuuuita coceira. Como a melhor coisa para coceira é unha, é comum que as lesões evoluam para feridas. Os prejuízos estéticos podem ser significativos, por vezes abalando até a autoestima. Geralmente os pacientes com dermatite atópica também têm (ou terão, num dado momento) asma e rinite de difícil controle.
As medidas aqui são para manter a hidratação da pele. Banhos mais frios e curtos, pouco sabonete, muito hidratante. Na hora da crise, uso de medicamentos tópicos e orais até o controle das mesmas. E evitar se coçar!
COMO EVITAR AS CRISES?
As medidas de controle gerais são o controle ambiental (nem sempre possível – caso da inversão climática, por exemplo) e a intervenção precoce quando da agudização dos quadros.
Aproximadamente 10% das pessoas são atópicas e remédio é o que não falta, inclusive medicamentos de distribuição gratuita como a famosa “bombinha”, no caso da asma.
O tratamento específico é feito caso a caso, dependendo da apresentação dos sintomas (rinite, asma ou dermatite).
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO
Voltando à Bíblia: assim como não é possível passar um camelo no buraco de uma agulha, não é possível falar tudo sobre alergia em um texto tão curto. Assim como existem outras religiões, existem outras formas de alergia (urticária, alergias alimentares, etc). Na dúvida, consulte sempre o seu pediatra.
Se tiver dúvidas sobre essa Santíssima Trindade ou qualquer outra forma de alergia, marque uma consulta com os nossos profissionais.
A atopia não tem cura, só controle. Mas aqui na Clínica a gente te ajuda a carregar essa cruz!