Meu filho tem infecção urinária! E agora?
Por Dr. Dorian Domingues, pediatra da Clínica da Criança e do Adolescente
Infecção urinária é o nome dado à colonização do trato urinário por microrganismos, principalmente bactérias, provocando um quadro infeccioso. Complicou? Vem comigo que eu explico.
O sistema / aparelho urinário começa nos rins (que filtram impurezas do sangue e formam a urina) e segue por dois canais (os ureteres direito e esquerdo) até chegar à bexiga e daí à uretra, por onde fazemos xixi.
Como não tem contato com o meio exterior, a urina é naturalmente isenta de qualquer bactéria, logo a contaminação desse ecossistema fechado acontece a partir desse ponto final do fluxo urinário e também a porta de entrada para as vias urinárias. É por ela que as bactérias sempre tentam “escalar” as vias urinárias superiores.
Seria um plano perfeito se não fosse a urina. A principal defesa das vias urinárias é justamente… urinar! Ao fazer isso nosso corpo “lava” as vias urinárias antes que as bactérias consigam “subir” até a bexiga ou os rins.
A partir daí fica fácil entender como funciona essa guerra: quanto mais você urina, melhor = viva a hidratação! E nossos inimigos são a baixa ingesta de líquidos e a obstrução das vias urinárias ou a retenção voluntária da urina.
Os principais agentes de infecções do trato urinário (ITU) são as bactérias da flora intestinal expelidas nas fezes, principalmente quando se usa fraldas, daí serem mais frequentes nas meninas (a uretra feminina é menor que a masculina). Também é importante lembrar a correta higienização após evacuar, nunca trazendo germes da flora intestinal para a região da vagina.
Em meninos, o principal fator de risco é a fimose, que pode gerar obstrução do fluxo urinário e infecção ascendente.
E lembrando: em ambos os gêneros a retenção voluntária da urina é um fator de risco, mesmo para crianças maiores e adultos.
Estatisticamente, aproximadamente 2% das crianças terão ITU e a escandalosa maioria é feminina (exceto no primeiro ano de vida, onde os meninos são líderes geralmente por fatores obstrutivos). Mas quem tem uma vez costuma ter mais de uma, e merece um acompanhamento rigoroso inclusive, com exames de imagem básicos que o próprio pediatra solicita (ultrassonografia das vias urinárias) e outros mais sofisticados (cintilografia, uretrocistografia), esses últimos a critério do especialista (nefropediatra).
Aumento da frequência e/ou incontinência urinária, disúria (dor ao urinar), alterações na cor ou no cheiro da urina, febre, dor abdominal, vômitos, diarreia, mal-estar inexplicado, perda do apetite… todos são sintomas compatíveis com ITU e essa hipótese deve ser considerada como diagnóstico, que se faz a partir do exame de urina, cuja coleta varia de acordo com a idade.
Em bebês, a perda de peso ou o peso estacionário são grandes alertas de possível ITU, que deve ser sempre investigada.
A ITU merece muita atenção pois pode provocar lesões renais irreversíveis (com risco de diálise ou transplante renal) e até septicemias (infecções generalizadas).
O tratamento é feito com antibióticos que podem ser idealmente selecionados a partir da urocultura, que identifica o germe causador da infecção e seu perfil de sensibilidade a diversos antimicrobianos. Depois do tratamento é importante a realização de controles periódicos para se ter a certeza da cura e da ausência de recidiva.
As melhores formas de prevenção são sempre a hidratação, a higiene local adequada e a não-retenção voluntária da urina. Nada de andar com a bexiga cheia por aí!
Por fim (mas sem esgotar o assunto, que é enorme): como em outras doenças, aqui também existe o portador assintomático, ou seja, há quem tenha ITU e não o saiba, mas que igualmente requer tratamento e seguimento rigorosos.
Em caso de mais dúvidas consulte o seu médico ou conte sempre com os pediatras da Clínica.
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