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Vício em telas na infância.

Hoje vamos falar um pouco sobre neurociência, para que você entenda a importância do controle do uso de telas na infância e em outros momentos da vida também.

Os primeiros seis anos de vida, também conhecidos como a primeira infância, são fortemente marcados  pela capacidade de aprendizado e desenvolvimento. É o período em que o cérebro possui a maior plasticidade, ou seja, quando aprende mais rápido e com menos esforço. Então, brincar, explorar, testar, socializar e muitos hábitos rotineiros são verdadeiros momentos de aprendizado.

No entanto, outra característica do cérebro nesse período é a sua imaturidade. A criança ainda não tem capacidade de julgar de forma ampla as situações, ela costuma acreditar nas coisas de forma literal, por exemplo: Se ela comete um erro e escuta alguém dizer – ah, que criança feia! – ela entende que ela é feia e não que a situação gerada não deveria ter acontecido.

Antes de iniciarmos o aspecto do vício, ainda é importante entender que o cérebro, em qualquer idade, sempre vai preferir os caminhos que ele já conhece e que geram prazer. Apesar do enorme potencial, ele é “preguiçoso”, por isso mesmo quando temos a intenção de mudar um hábito, a concretização do ato pode ser muito difícil, simplesmente porque o nosso cérebro vai nos guiar por onde é familiar e não em busca de caminhos que ele vai ter que trabalhar.

Explicadas essas três características, acompanhe comigo. O vício é um hábito que produz um prazer muito grande ao nosso cérebro, de forma que ele se torna obcecado em querer mais daquilo. O vício pode ter aspectos que afetam a saúde de uma forma mais direta, como um vício em algo químico, ou pode ter aspectos que afetam de forma branda, mas que ao se intensificar pode gerar uma disfunção que cause danos ao indivíduo.

Quando a criança é exposta aos tipos de vídeos atuais, que são cheios de gatilhos para prender a atenção dela, ela praticamente desliga a capacidade de aprendizado cerebral, focando toda a sua atenção visual para a tela. O cérebro imaturo ama todo aquele conteúdo e quer sempre mais, até porque é algo que não lhe exige esforço e ainda causa uma sensação de anestesia. Já viu que a criança na frente da tela não reclama, não chora, quase esquece até de comer? Essa sensação de “curtir” somada a alienação do mundo real provoca facilmente o vício em telas.

Talvez você pense que seria mais um hábito, uma vez que não provoca uma disfunção, será? Crianças que passam muito tempo em frente às telas perdem aquele tempo sem desenvolver a capacidade plástica do seu cérebro, ou seja, elas não exploram, elas não tentam, apenas absorvem, o que a depender do conteúdo pode até ensinar algo válido para ela, mas que não se compara a usar todos os sentidos (visão, tato, audição, olfato e o paladar) como em brincadeiras.

Muitos estudos estão sendo realizados no mapeamento dos impactos das telas na rotina das família e alguns aspectos como: aumento do sedentarismo, crianças e jovens mais obesos, aumento de casos de miopia no público infantil, desregulação das emoções e aumento da ansiedade, sensação de solidão e dificuldades na rotina do sono.

Cuidar da saúde mental é cuidar do cérebro e das emoções. Então, apesar das telas serem uma realidade em quase todos os lares, é preciso supervisão e controle. O vício após instaurado é difícil de ser revertido, mas também não é impossível. Busque oferecer atividades que estimulem a criança de forma completa, estabeleça um tempo de tela e o tipo de conteúdo mais apropriado.

Aqui na Clínica da Criança e do Adolescente somos preocupados com o desenvolvimento global. Por isso além da nossa equipe de médicos pediatras com diferentes especialidades, ainda contamos com um quadro multidisciplinar com psicóloga, fonoaudióloga e neuropsicopedagoga, todos prontos para cuidar da sua família da melhor forma.

Conviver com telas e computadores é inevitável e natural. Mas é importante evitar os excessos e estimular o convívio entre as pessoas. Porque essa, sim, é a nossa verdadeira natureza.

“Não sois máquinas, homens é que sois” (Charles Chaplin – “Tempos Modernos”)